NOTÍCIAS
22 DE SETEMBRO DE 2023
Terra Indígena Puyanawa recebe ação da Justiça do Acre: “reparo histórico”
Através da união e esforços do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), Defensoria Pública do Estado do Acre (DPE/AC), Governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (Seasdh) e parceiros, foi possível viabilizar um dia histórico, nesta quarta-feira, 20, em uma ação integrada que levou justiça e cidadania para a Terra Indígena Puyanawa, no município de Mâncio Lima.
A Terra Indígena Puyanawa é demarcada desde 17 de maio de 2000, com área total de mais de 24 mil hectares, 205 famílias e 749 habitantes. A equipe que levou serviços ao local foi recebida com uma cerimônia com música e dança para anunciar, como se diz na língua dos Puyanawa, “Mawiki Xawiki”, ou sejam bem-vindos.
Os atendimentos foram realizados na Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental e Médio Ixubay Rabui Puyanawa. Os indígenas puderam ter acesso a emissão de documentos (RG, CPF e título de eleitor); atendimentos jurídicos (consultas processuais, retificação de documentos e encaminhamentos de ações judiciais); atendimento previdenciário e social; e de saúde com testes rápidos, vacinação e aferição de pressão arterial, entre outros serviços.
A juíza substituta da comarca de Mâncio Lima, Glaucia Gomes, esteve presente acompanhando os trabalhos e falou da relevância das ações, principalmente na inserção da etnia na documentação dos indígenas. “É um dia de muita alegria e muita satisfação estar aqui numa ação que oferta os serviços básicos, mas tão importantes, como a emissão de documentação. O nome é algo que marca a personalidade das pessoas. Então, essa atividade voltada a corrigir, a fazer esse serviço de adequação é de extrema relevância, pois hoje o povo Puyanawa pode acrescentar a etnias aos seus nomes. Isso traz identidade, reconhecimento e pertencimento em uma aldeia que é muito integrada com a sociedade, mas que tem toda a preservação ambiental, um papel de relevância, principalmente para Mâncio Lima. É motivo de muita alegria”, concluiu a magistrada.
O serviço mais procurado é o documento de Registro Geral ou RG. O diretor do Instituto de Identificação Junior Cesar, que estava acompanhado do coordenador do Instituto de Identificação do Juruá, Jonas Oliveira de Souza, falou sobre a ação. “É de grande importância a Policia Civil estar presente nesse evento aqui na Aldeia Puyanawa trazendo cidadania para os indígenas, viabilizando a documentação com o nome da etnia, que é muito importante ter essa identificação. Grande satisfação o Instituto de Identificação estar aqui, sendo parceiro do TJ e os demais órgãos nessa ação integrada”, finalizou.
Estiveram presentes também o promotor de Justiça Pablo Leones, do Ministério Público do Acre (MPAC) e o defensor Público Diego Luiz, da Defensoria Pública do Estado do Acre (DPE-AC).
O líder da aldeia, cacique Joel Ferreira Lima Puyanawa, é vereador em Mâncio Lima e aproveitou a oportunidade e deu entrada para mudar sua documentação, e pela primeira vez, aos 52 anos, poder assinar seu nome utilizando a etnia em documentação.
“É um reparo de justiça em nossa história, dos nossos nomes em nossas documentações, a gente já sofreu muito tempo com isso, nossos parentes não tiveram culpa. Meu avô foi se registrar, mas na época, quem registrou foi o coronel Mâncio Lima, meu pai quando foi se registrar, sendo filho do meu avô, ele não pode colocar o nome indígena, ficou Mário Cordeiro de Lima. Nada a ver. Te dou esses exemplos, porque muita gente do nosso povo foi assim”, ressaltou Joel.
O Cacique explica ainda porque a inserção da etnia nos documentos é tão importante. “O nosso nome Puyanawa vai trazer pra nós, vai nos dar a certeza da pessoa que nós somos. Onde a gente for, vamos ter o prazer de mostrar o nosso nome. Pra mim é mais do que satisfação hoje, poder daqui há pouco mais de um mês, receber minha identidade com meu nome Joel Ferreira Lima Puyanawa, com foto e com a caracterização da minha cultura. Obrigado a todas as instituições que estão nessa força integrada, trazendo pra nós o reconhecimento e valorização da cidadania.”
O líder da aldeia também relata que seu sentimento “é de muita leveza e muita gratidão. Me sinto como se tivesse tirando um peso dos meus ombros, de eu poder assinar pela primeira vez como Puyanawa. Esse peso que está saindo é a dificuldade que meu povo tinha. Era a vergonha que tínhamos no passado, mas hoje a gente tem consciência e o apoio da Justiça”.
Joel Puyanawa comenta ainda sobre o que representa a ação do Poder Judiciário na Terra Índigena. “A presença do Poder Judiciário aqui representa a frente de um processo de correção do nosso direito. Tribunal de Justiça, junto com a Defensoria Pública, o Ministério Público, encabeçando essa luta pra corrigir um erro na história. A partir de agora, sempre estarei com a documentação com minha foto e com meus adornos comprovando quem eu sou”, finaliza.
Aos 48 anos, Samuel Rondon Iraque Puyanawa também vai assinar seu nome pela primeira vez com a identificação da etnia em seu sobrenome. Samuel, ou Rakekãy, em sua língua, tem 9 filhos, 4 netos, e trabalha como professor de língua indígena. Ele conta com orgulho o privilegio de viver esse momento que considera histórico.
“O sentimento é de gratidão por conta que nossos ancestrais não tiveram esse privilégio. Eles foram proibidos de usar a língua e usar a etnia no nome. Nós temos esse privilégio de usar o nome da nossa etnia sendo registrado em nossos documentos. É uma coisa muito importante pra nós. Nós, o povo Puyanawa, temos que nos orgulhar disso. Quero agradecer a cada uma das instituições aqui presente. Todo povo indígena tem um nome indígena e esse nome indígena tem que ser valorizado e respeitado. Acrescentar etnia na documentação é existir de fato e de direito”, finalizou.
Convênio e parceiros
A ação faz parte do Projeto Cidadão do TJAC e do programa Defensoria Itinerante – Cidadania mais perto de você, da DPE/AC. A edição é realizada com apoio de diversas instituições e com financiamento do Convênio nº 402/2020 – Plataforma +Brasil nº 904427/2020, firmado entre o Tribunal acreano e o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
São parceiros da ação integrada, o Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), o Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC), a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Receita Federal, Prefeitura de Mâncio Lima, bem como, o governo do Acre, através da Secretaria de Estado da Mulher (Semulher), Polícia Civil com o Instituto de Identificação, e Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas (Sepi).
Projeto Cidadão em Mâncio Lima
Os atendimentos na Terra Indígena Puyanawa continuam nesta quinta e sexta-feira, 21 e 22. Contudo, a comunidade da área urbana do município também será beneficiada com o Projeto Cidadão, no sábado, dia 23, de 8h às 15h, na Escola Padre Edson de Oliveira, promovendo cidadania e direitos por meio de diversos serviços. A ação será finalizada com o tradicional casamento coletivo.
Fonte: TJAC
The post Terra Indígena Puyanawa recebe ação da Justiça do Acre: “reparo histórico” appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Portal CNJ
22 DE SETEMBRO DE 2023
Meio ambiente clama pela redução de danos, afirma presidente do CNJ
O racismo ambiental é mais uma forma de tratamento desigual que afeta majoritariamente pessoas pretas, quilombolas,...
Portal CNJ
22 DE SETEMBRO DE 2023
Mais quarenta instituições aderem ao Pacto da Primeira Infância em seminário comemorativo
A celebração dos quatro anos do Pacto Nacional pela Primeira Infância marcou a adesão de mais 40 instituições,...
Portal CNJ
22 DE SETEMBRO DE 2023
Magistrados do TRF4 responderão no CNJ por descumprir decisão do STF sobre Operação Lava-Jato
A Corregedoria Nacional de Justiça determinou a instauração de reclamação disciplinar contra os desembargadores...
Portal CNJ
22 DE SETEMBRO DE 2023
Sérgio Moro e magistrados do TRF4 serão investigados por gestão caótica e violação a deveres da magistratura
O corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, determinou, nesta sexta-feira (22/9), a...
Portal CNJ
22 DE SETEMBRO DE 2023
Manual sobre tráfico como pior forma de trabalho infantil é traduzido para inglês e espanhol
O tráfico de drogas é a segunda maior causa de internação de adolescentes (24%), atrás apenas de roubo (36%),...